quinta-feira, 3 de março de 2016

Vozes Femininas da Literatura Periférica e a Poesia de Jenyffer Nascimento

Atualmente observa-se um movimento literário crescente nas periferias da cidade de São Paulo. Diversos espaços como fábricas de cultura, bares, Sesc, casas de cultura, entre outros, são ocupados para a realização de saraus, encontros poéticos para contemplar a arte produzida na e para a periferia. Arte produzida por moradores da periferia que falam sobre sua realidade e ocupam seu lugar de fala, que geralmente lhes é negado em outros espaços, escrevendo sobre suas dores, seus amores, seu cotidiano, sobre a beleza, a doçura e as agruras da periferia.
Essa literatura chamada periférica tem sido amplamente estudada em meios acadêmicos e tem ocupado cada vez mais espaços não periféricos, porém muitas vezes o resultado desses estudos não chega à periferia, permanecendo na academia. Sérgio Vaz, poeta da Cooperifa, diz que literatura periférica é aquela que é produzida por pessoas que moram na periferia, que nasce em espaços violentos, do racismo, da precariedade da saúde e da educação, da orfandade, de uma condição social desprivilegiada.
Embora essa literatura esteja tendo uma projeção importante no cenário literário, é necessário destacar que os homens estão ocupando o papel principal, enquanto muitas mulheres estão lutando por reconhecimento e para ocupar seu espaço dentro desse movimento. A grande maioria dos saraus ainda é organizada por homens e muitas publicações, especialmente as mais reconhecidas, são de autoria masculina.
Apesar da dificuldade de encontrar o devido reconhecimento, muitas autoras de literatura periférica têm persistido e rompido com os padrões impostos pelo machismo e racismo. Há muitas autoras de literatura periférica produzindo ativamente obras de qualidade, seja individualmente, seja por meio de coletivos de mulheres. Dentre elas podemos destacar a autora Jenyffer Nascimento.
Jenyffer é uma mulher negra nordestina, mãe, trabalhadora, feminista, produtora e apreciadora de arte, além de frequentadora de saraus da periferia da zona sul de São Paulo. Jenyffer é porta-voz de uma geração de mulheres negras que estão descobrindo e construindo sua identidade enquanto mulheres negras, fortalecendo-se mutuamente e construindo diálogos visando ao fortalecimento de sua autoestima.
A poeta foi convidada a lançar seu primeiro trabalho autoral pelo Coletivo Mjiba, coletivo de mulheres negras fundado por Elizandra Souza, que também é escritora e tem publicadas as obrasPunga, em parceria com o poeta Akins Kintê, e Águas da Cabaça, de autoria própria. O coletivo tem como foco principal o empoderamento de mulheres negras, seja por meio da divulgação e publicação de suas obras, seja por meio da realização de eventos culturais como peças de teatro e saraus.
A primeira publicação de Jenyffer foi feita em uma coletânea do Sarau do Binho, sarau realizado na região do Campo Limpo. Após essa publicação, alguns de seus poemas foram publicados no livroPretextos de mulheres negras, obra de poemas que contou com a participação de 22 mulheres negras. Seu primeiro trabalho autoral foi a obra poética Terra Fértil. Sua obra é intensa e aborda de forma comovente e envolvente temas como amor, identidade, negritude, machismo e racismo, entre outros.
Fonte: http://blogueirasnegras.org

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