segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Literatura periférica ainda encontra dificuldades para entrar no circuito comercial

Embora seja quase impossível saber o número exato de publicações existentes, pois não há necessidade de registro para livros independentes, estima-se que apenas 20% das obras passaram por uma grande editora.

Por Cinthia Gomes
Apesar do aumento do número de autores e consumidores de literatura periférica desde o início do movimento, os escritores continuam enfrentando o mesmo problema: como, onde e com que dinheiro publicar? Desde o lançamento de 'Capão pecado', do escritor Ferréz, no ano 2000, mais de 200 títulos foram lançados, a esmagadora maioria sem passar por uma grande editora. 

Um exemplo bem sucedido foram os 15 livros lançados pela Edições Toró, editora independente idealizada pelo escritor Allan da Rosa. Um deles é 'Punga', de Elizandra Souza e Akins Kinte, publicado em 2007 com financiamento do VAI, um programa de fomento à produção cultural de jovens artistas de São Paulo. 

Esse ano, Kinte vai lançar por conta própria o terceiro trabalho literário, um livro com CD de poesias recitadas com música, e pretende manter a produção independente do circuito comercial das editoras.
A maior parte dos escritores marginais ou periféricos publica de forma independente, com dinheiro próprio ou com o financiamento de editais, e trabalha na circulação das obras em saraus literários por todo o Brasil. 

O escritor Alessandro Buzo é também dono de uma livraria especializada em literatura periférica e já passou pelas duas experiências: a do lançamento independente e a da publicação por grandes editoras.
Apesar de a publicação independente dar ao escritor maior controle sobre todas as etapas da produção e venda da obra, o alcance fica limitado aos locais de circulação do autor. Com o lançamento do terceiro livro, agora por uma editora, Rodrigo Círiaco, do Sarau dos Mesquiteiros, observa diferenças na divulgação quando compara com os dois trabalhos anteriores.

'A vantagem que tem de lançar por uma editora, além de um certo suporte, é a distribuição.'
Em 2015, só na cidade de São Paulo, 20 livros serão publicados com financiamento do VAI. 

Além disso, também haverá destinação de R$ 500 mil para a realização de saraus de literatura periférica nas bibliotecas por meio do edital Veia e Ventania. 

Um comentário:

  1. Acompanho a cena ha mais de uma década e a pergunta que tenho é: os autores da literatura marginal/periférica querem de fato entrar nas grandes editoras ou as edições independentes ainda são o melhor caminho?
    Digo isso porque quando uma editora publica um livro, o autor fica com apenas 3% do lucro das vendas, sem falar que o acesso aos próprios livros - para circular nos saraus/slams e etc - é mais restrito.
    Será que existe esse interesse em estar numa grande livraria, ou seguir exemplos como o da editora Literarua, do Toni C., que distribui os livros de forma independente para todo o Brasil e ainda os coloca nas grandes redes de livrarias, nos estandes de lanchonetes de beira de estrada e nas Casas Bahia não é um caminho?
    Hoje vi um post do Victor Rodrigues, que já vendeu 6 mil livros de mão em mão nos últimos anos. Quantos autores estreantes com livros em editora venderam essa quantia?
    Eu vejo que o mercado 'de baixo' como diria Milton Santos, fortalecido de igual pra igual, é mais generoso do que o das grandes livrarias. Enfim, mas é só uma visão pra contribuir com a discussão.

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