terça-feira, 24 de junho de 2014

Favela, sempre Favela

Sou ousado, não tem jeito, não tenho escolha: devo ser ousado. Essa ousadia, adquirida com a vivência e a narrativa da favela, me fez entrar e sair, saber quem é quem e sentir a maldade de longe. Sim, sinto o cheiro de coisa errada há quilômetros. E ninguém me ensinou isso, tá no meu DNA do favelado.
Antes de ser periférico, sou favelado. Só quem mora num beco, numa viela sente a diferença entre periferia e favela.
Não me faço de bobo, simplesmente deixo o tempo responder as perguntas precoces. O tempo ninguém questiona.
Sou vulneral, suscetível ao que você entende como erro. Não estou livre de julgamentos, os juízes fazem parte deste plano.
Me dou a oportunidade de errar, isso fortalece, traz sabedoria, é disciplina na escola da vida.
E hoje, antes da oportunidade, tenho a responsabilidade de trabalhar com a favela. Missão nada fácil, uma vez que "cada favelado é um universo em crise".
Faço parte de um universo, mas sou indivíduo, e sou coletivo. Como coletivo estamos numa narrativa, construindo caminhos e se permitindo.
Coletivamente construímos o Festival Percurso. Este que mostrou na prática, como um grupo pode ser auto-gerir, se sustentar dentro de um conceito que tentar sobreviver em meio ao capitalismo.
A prática de economia solidária é secular, está na raiz do favelado: no repartir do pão que sobra na casa do vizinho; no almoço coletivo domingo; no levantar das paredes da casa; quando deixamos de comprar no Carrefour, para consumir no boteco do seu Zé Maria; no bater da laje; no cimento doado que sobrou da obra; na roupa que passa do irmão mais velho para o mais novo; no enxoval feito de forma coletiva…Só estou aqui, por conta da solidariedade de vários favelados que acolheu meus pais que chegaram do nordeste com duas crianças.
Por fim, somos a prática da economia solidária. Este conceito está enraizada na nossa narrativa de vida. Fortalecer isso, só vai fazer com que mais dos nosso sobreviva.

Dedicado ao meus amigos e amigas que fizeram um festival que traz uma marca para a periferia de São Paulo.
Foto: Cassimano Santos Nana

por: Joseh Silva 

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